sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

Valsa

Não gosto quando ela se aproxima assim... Mas sempre a recebo...
Mesmo que não tenha vindo dessa vez a minha casa, parece que ela faz questão de mostrar que veio!
Vai chegando, com a sua palidez e frieza próprias, esticando seus dedinhos lamuriosos para roubar sopros de vida e deixar em seu lugar ramalhetes de questões que jamais poderão ser respondidas.
Quem fica, sempre arruma desculpas, justificativas, que nunca serão plenas!
E sempre que você vem, voltamos nosso diálogo...
Aquele, sobre um dia de visitas.
...
Lembro-me de tê-la colocado para dormir...
Lembro-me de estar tão rasgada, que era difícil respirar...
Lembro-me daquela carta... meu pedido de perdão antecipado à pessoa que jamais terei de volta.
Tomei um banho e me limpei cuidadosamente, pensando em cada parte do meu corpo que seria tocado depois, e o que comentariam.
Eu ia rindo de forma imbecil. E ainda hoje, me pergunto: "Como eu podia rir daquilo?" Então depois, untei meu corpo com o meu melhor hidratante, vesti minha roupa mais leve e caminhei até o quarto dela, mais uma vez, para sentir seu cheirinho de inocência... de uma longa vida, ainda a ser vivida...
Dei-lhe um beijo longo e demorado na testa e fui abençoando-a e implorando à Deus, que a livrasse da minha maldição... 
Enfim, coloquei a carta embaixo das suas cobertinhas... E me dei conta do que faria.
Saí do quarto e deixei a porta entreaberta...
Olhei no relógio e ele acusava a hora da chegada do meu algoz... aquele sombrio que vinha lascando minha alma dia após dia, roubando todos os meus significados e assim me reduzindo a minha insignificância.
Alguns chamariam de ato de covardia... eu não! Não naquele momento...
Já havia perdido tanto àquela altura, mas ainda me sobrava alguns resquícios de alma e por estúpido que pareça, meu único desejo era o de não permitir que aqueles retalhos de mim, me fossem tirados... eram meus! Isso e tudo de mim, que ele ainda não conseguia tirar.
...
Então, minha amiga... Lembro que ao olhar o tempo, senti seu cheiro... E enquanto eu seguia no corredor, rumo a sala, sua frieza começou a se apoderar de mim, me paralisando, me roubando as articulações, de forma, que pareço ter sido carregada por você, até o parapeito da janela.
Quando eu olhei lá fora, não vi nada além de um grande pátio vazio, e embora fosse um lugar movimentado, estava tudo vazio!
Tudo!
Inclusive eu... e sobre isso, nunca saberei se foi você, me dando a cegueira e o silêncio ensurdecedor daquele momento.
Lembro de passar a mão sobre o rosto e sentir as minhas bochechas gélidas molhadas, além da minha respiração estranhamente bufante e quente...
Eu não queria!! Mas você me puxava e me empurrava! Então valsamos sobre aquele espaço atemporal... Sobre o tempo, então, valsávamos eu e a Morte!
Lembrei do meu sonho... O grande pátio de espelhos, eu, no me vestido escarlate, bêbada pelos teus trejeitos, sendo tocada e beijada por você, sujeita sem rosto, ladra de sonhos, cheirando a barganha...
Valsamos, rodopiamos todo aquele salão, até você me girar, girar e me soltar maltrapilha de novo no parapeito daquela janela e me pedir friamente todo o meu futuro... Todos os meus suspiros, risos...
Você, me pressionava com seu espírito gélido, então ousei tentar um primeiro passo... e vi meus pés pálidos... tão frios que dava para ver minhas unhas levemente azuladas...
Fechei meus olhos!
Eu estava pronta...
Pendi o corpo para frente ainda segurando a janela e ia obedecendo a senhoria, quando ecoou rasgado naquele cenário, um choro escandaloso, forte e imponente, que até a ti desequilibrou.
E voltei a ouvir os sons do andar de cima... Voltei a sentir o calor que não sentia ali.
Vi seu desespero, pelo medo da sua perda! Você dançou na minha frente, como uma dama fracassada, uma cafetina falida que acabava de perder um grande negócio... Você não teria a minha alma!
O choro rompeu tudo e veio acompanhado de um cheiro forte de rosas que me suspendeu e devolveu ao chão na pancada mais feliz que havia tomado nos últimos dias.
Retomei as rédeas do meu ato!
"Eu precisava viver, não mais por mim, mas por ela!"
Corri então para o quarto e a tomei nos braços, pondo meu seio na sua boca e alimentando-a não apenas com meu leite, mas com o que eu era, com o que eu podia ser, para permitir que ela fosse alguém melhor do que eu havia me tornado.
Não demorou muito, meu algoz chegou... E como rotina, voltei para o tronco...
Fui feliz! O choro rompido no tempo, me deu um objetivo rasgando a mortalha que vossa senhoria tecia para mim, dia após dia, naquele contrato entre você e ele...
Dias depois, saí do meu cativeiro... E não foi fácil aprender a andar de novo... Palpar as coisas e distinguir o real, do imaginário...
Tão acostumada as ofensas, custei a entender a diferença do peso das mãos e seus abundantes significados. Mas consegui!
E agora, estamos aqui...
E não é que de vez em quando, recebo tuas visitas?
Não tenho raiva de ti...
Nos sentamos nessa varanda e discutimos todas as sensações que te rodeiam... E te acho pobre, por viver teus longos e infindáveis dias, da finitude dos outros.
Mas bem, ainda não é a hora e até lá sei que dialogaremos muito, valsaremos e voltaremos cada uma a sua atividade diária, até o dia em que finalmente daremos as mãos...
Peço-te apenas, permita-me a paz de uma vida bem vivida...
Dessa forma, quando vieres, permitirei que vague-es meus olhos e os recubra com tua penumbra, abrasando-me o leve sorriso, que ficará para sempre, de todas as almas que atravessaste, em tua vil memória.

terça-feira, 28 de novembro de 2017

Camaleão

Ah camaleão...
Me diz como é que muda de cor!
Me ensina como se camufla, que eu quero me esconder dessa dor e quero vencer meus dias, como se eu pudesse ser imortal...
E como se eu fosse imortal, misturar-me com as flores e folhas, pedras e húmus sem sofrer um arranhão.
Hey camaleão...
Eu sei que você entende bem!
Quisera eu, da natureza possuir esse dom e no meio de tudo, sem ser Orfeu ou Amadeus, romper meu Édipo, ter de novo meu domínio e escrever sobre os fascínios de um mundo mais leve que esse meu...
Mas ai camaleão...
Essa carne que me reveste, ao mesmo tempo que chama, repele! E me maltrata... E me humilha com uma sobrevida que eu sei que não merecia... Quem merece?
Abrigar, abrigo, me obrigo a um sorriso farto de impossibilidades, de incertezas. E porque quero tanto o desconhecido?
Mas me diz aí camaleão...
Como é que você faz, para se misturar no tempo e sobreviver aos intemperanças da vida?
E me explica aí, se vale mesmo apena ser assim, de cor e sem cor, misturado na relva, no seco e no molhado, no novo e no velho, claro e escuro... Tumulto!
E o que é isso camaleão...
Me empresta, essa cara lavada de quem sabe bem fingir que tá tudo bem... A paisagem mais bonita do deserto e seus dessabores... E aí, tô melhor de conveniência?
Sabe camaleão...
Que vida é essa? E quem foi que me pôs aqui? E não é que eu não ame, o ar que respiro... Mas nem sempre amo o papel que me é dado... E não é porque é bonito... E não é porque é poético, que tudo fica colorido...
Ah camaleão...
Se você soubesse... Mas você não sabe... Melhor pra ti! Que desperdício, o dom de se misturar e passar na frente do predador, sem ser visto... Sem se machucar!

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Habitável

Hey Anna, bom dia!
Então... Você está certa! Fazia tempo né?
Mas não é que eu não queira vir aqui, sabe?
Eu quero e em muitas proporções! Mas é que escrever aqui e fazer essa releitura de mim mesma, outra vez e de novo e de novo... Que tédio!
É uma roda que não gira, quando sua função é girar, sair desse lugar, desse ciclo!
E já falamos tanto sobre isso de quebrar ciclos né?
E cá estou eu de novo... E a roda que não gira...
Aqui chove há dias... Não! Não é lá fora... É aqui mesmo... 
E se eu te contar que até gosto e prefiro a chuva, você acredita?
Faço um esforço enorme para manter meu tempo aqui assim! 
E é como se toda essa chuva, me pertencesse mais e me permitisse ser mais eu em mim, do que aquele calor insuportável, que não aquece, só queima...
Então, a última ventania, arrancou as trancas das portas e das janelas da minha alma... 
Tenho andado nua e descalça... 
E às vezes é bom, não ter o peso das roupas e nem sapatos limitando meus passos, mas quando tudo tem seu ócio, as vezes me falta pele ou casca pra não deixar-me ferir os pés e ter a perspicácia de simplesmente seguir.
Mas vamos lá! 
Nua e descalça...
Sem véu nos olhos, sem mel nos lábios, dente de leão nos cabelos... 
Que espécie de gente pra ser eu fui sendo até aqui?
Que espécie de lugar pensam que eu sou a essa altura, pra virem me habitar e desabitar assim?
E, que tipo de inquilino furioso, entra e sai me arrancando um pedaço por vez a cada vez?
Posso lhe assegurar, que ainda assim, estou bem! 
Cinza e antiga, mas bem! 
A espera de um dia chegar ao meu lugar...
E vejo! 
Quase posso alcançar... 
Minha cabana, afastada dessa turbulência, onde permaneço nua e descalça, sem trancas nas portas e janelas...
Hey, mas espera... Não é aqui, já?
É familiar...
Então sigo... E talvez se a roda girar, seu sentido seja anti-horário e me devolva, me banhe, me torne uma prece num tempo qualquer... 
Me deixe menos mortal... Mais habitável...
E se a esperança não engana... É dessa calmaria que espero embebedar-me...

https://www.youtube.com/watch?v=Fwn85JEazLw

quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Breve...

Breve...
Breve, breve...
Vida breve...
Como pode? Em questões de segundo atravessei sensações que nunca pensei passar...
Uma parte importante da minha existência... Não! Uma parte da minha existência resolveu que se desprenderia e partiria para não mais voltar.
Eu me lembro e sinto ainda, o dia que vi por uma última vez o seu mais belo sorriso. E recordo-me despedaçada o que ouvi em meu coração "Guarda bem este momento para você."
E guardei! E é tudo que eu tenho agora, quando tento me lembrar de ti. Aquele sorriso, tão raro, tão belo e puro de uma despedida tão ali, que me coração ousou por dias negar, até tocar o inevitável.
A sua partida foi breve!
E toda a estranheza saber que era incontornável e ainda assim acreditar em milagres, sem perceber, talvez pela minha humanidade, que o maior milagre já se realizava por oitenta e quatro anos, e que fui agraciada por ter presenciado vinte e nove anos, desses oitenta e quatro, em que fui me graduando como ser humano, através dos seus humildes e sábios conselhos.
Ah meu velhinho... Ah meu Deus! Quantas tardes, quantas histórias, quantas canções!! De todos os temores que eu tinha na vida, nada me amedrontava mais do que decepcioná-lo e me tornar uma pessoa vil... E eu nem sei, se consegui ser alguém assim, que merecesse seu olhar de orgulho, por minhas singelas conquistas.
Mas eu amava, poder partilhar cada detalhe... E pensava sempre: "Esse é um homem, cuja história, merece ser contada e recontada por muitas gerações. Pois embora não possuísse as riquezas desse mundo tal como grandes reis, fora responsável por construir um império, com suas pequenas mãos, o suor de tardes quentes de labor, tendo apenas a inchada, um laço... e claro, o chapéu..."
Ahh... o chapéu!
Aquele chapeuzinho, sua marca! Como dói, vê-lo sem seu dono...
Cada dia que se passa tem exigido de mim mais e mais lágrimas, algumas de alegria pelas lembranças dos nossos bons momentos, outras por saber que não teremos mais esses momentos.
Ai saudade! Oh sentimento sem educação! Que chega de forma tão inesperada e já toma a posse, a respiração, os reflexos... qualquer ação! E assim, parece que nos fecha numa caixinha pequena, onde desejamos ficar, sem ver, ouvir ou falar do fato!
Até sair daí, vão-se as horas, os dias, os meses, os anos... E vou descobrindo que logo não restará senão aquela memória, aquele sorriso, aquela despedida, aquele momento que um anjo sabendo da minha fragilidade soprou em meu coração para que guardasse.
Se eu pudesse voltar naquele dia... Se eu pudesse te soprar vida... Se eu pudesse...
Mas nada me sobra, se não esperar...
Será que na minha hora, o verei no barco que vier me buscar?
Quero eu, sentar-me nos campos floridos que agora descansas e ouvir novamente tuas histórias e rir contigo, como muitas vezes aqui fazíamos!
Obrigada por tudo!
Obrigada por sua simplicidade!
Obrigada pelo seu carinho e toda a sabedoria de vida partilhada!
De onde estiver, meu desejo é que nunca se esqueças de mim...
Saudade

sábado, 16 de setembro de 2017

Palavras...

É incrível o poder delas...
Saem da nossa boca quase sempre sem serem pensadas ou planejadas, no dia a dia, acompanhada de risadas ou significados escondidos entre uma vírgula e outra.
E às vezes conseguem fazer um estrago enorme! Um rasgo irreparável...
Palavra dita, não volta!
Eu nunca pensei passar por isso, ainda mais com vocês, tão polidos e crescidos num meio que provavelmente deveria ter lhes ensinado a serem melhores do que atualmente vejo vocês serem.
Doutores e juízes... Decidindo quem pode e quem não... Quem deve e quem não... Quem passa pela porta estreita e quem fica entalado nela...
Vocês, que comeram comigo...
Vocês, que repousaram sob as paredes da minha casa...
Vocês, que comigo entoaram maravilhosas melodias e que agora me fazem sentir como se nunca tivesse estado dentro da harmonia que tecemos.
Como pode isso?
Mesmo distantes vocês ainda conseguem entrar e fazer aquela devastação...
Mas dizer o que?
A responsabilidade é minha! Única e exclusivamente minha, porque fui eu, quem abriu a porta uma vez para que vocês entrassem, me conhecesse, tivessem uma parte de mim, que eu escolho a dedo a quem dar e agora, sem trancas, eu me vejo ser invadida por esses conhecidos intrusos, que não medem suas palavras, não tem se quer a humanidade de simplesmente deixar que eu cuide de mim, porque até dentro do meu lar, do meu espaço interior, vocês tem encontrado uma brecha para suas audiências, para me fazer ser ré de um julgamento que não deveria me pertencer...
Olha a covardia...
Adocicada covardia!
Sim! Bem doce mesmo... Porque vem com palavras polidas, gestos parnasianos e uma postura francesa impecável, alinhada...
E lá vou eu novamente, porque meus olhos enxergam além da íris! Óh maldição!!
Dorian, Dorian... Quantos não?
Vejo por debaixo dos panos, a carne fétida, apodrecida, que se desfaz a cada golpe de palavra maldita que vocês entoam...
E tenho pena... Mas é tanta, que me rasga mais do que as palavras que usaram para me martelar...
Porque?
Porque quando crio um laço, ele não se desfaz tão facilmente... Mesmo com tanto golpes, fica sempre uma linha fina, que me liga à vocês e me dá esperança de que a moldura, a arte putrefata escondida embaixo dos ternos alinhados, seja apenas um cisco, um mal entendido de uma visão envelhecida pelo tempo, pelo uso, pelas experiências que nos dão tanto, mas também tiram...
Sim... Tiram... A gente passa a não confiar tanto, no que vê, mas apenas no que toca! E outra vez, "Eu, Tomé!"
E vai-se lá, no meio do circo! Atração principal!
Como pode tanto conhecimento e nenhuma "rezalução"... Como?
Eu já não sei...
E de uns tempos pra cá, dói só o primeiro golpe! No segundo, a pele dormente sente ser golpeada, mas está tão entregue, que passa... Já se acostumou... E no fim, só sabe que... já passou...
Mas... Quando foi que isso aconteceu?
Quando foi que eu permiti que acontecesse?
E o mais importante: Porque continuo a permitir?
Vai pra longe! Por favor!
Já chega!
Não foi pra lá que eu caminhei... Não era esse o fim da minha busca eterna!
Não é pra lá!
Não combina!
Por baixo do meu terno, a carne mesmo marcada ainda é macia...
Por baixo da carne então, minha alma ainda vibra!
Tudo bem... Eu sei que a luz está fraca e a respiração quase inaudível, mas ainda existo!
Eu insisto!
Vejam, ainda estou aqui! Podem comprovar! Toquem... Sintam... Ouçam...
É sonhadora e bela!
E talvez um dia, como um dia contaram, alguém tiver a coragem de desbravar os caminhos que levam até ela, possa enfim despertar-lhe deste sono profundo, deste inferno entre tantos que a levaram ao coma e em muitas vezes simplesmente gostar de estar lá, só para evitar mais marcas, mais golpes...
Era uma vez!
Eram tantas...
Eram tantos...
Mas não ficou ninguém... Não se mantém um semblante por tanto...

quinta-feira, 20 de julho de 2017

Meu melhor amor...

De tudo, que eu poderia ter ganhado de bom nessa vida, ganhei você!
De todo o amor que pudesse ter nesse mundo, ganhei o seu!
Do olhar mais bonito que pudesse ter voltado pra mim, ganhei o seu...
E não importa, quantas vezes eu venha aqui para dizer algo, desde que você chegou na minha vida, nunca terei palavras suficientes para descrever o meu amor por você.
É tanto carinho... Tanto cheirinho, abraço, beijo...
"Mamãe, passa um batom em mim igual o seu?"
Você é a minha melhor parte! O meu presente feito pelas mãos de Deus e que me foi entregue pelos braços ternos de Maria, nossa mãezinha!
Filha, eu te amo, de um jeito, que não cabe no peito... Transborda nos meus olhos, nos meus poros, na minha essência...
a
Foi você, que ao vir a este mundo, me fez querer ser melhor. Me ensinou a ser forte por você. Me fez dobrar os joelhos para ficar de pé.
É o seu sono tranquilo que me acalma...
É a sua confiança que me faz ser forte...
É a sua inteligência que me faz sentir tanto orgulho...
Minha princesa... Minha pérola...
Eu te amo...
"Mamãe, posso sentar um pouquinho no seu colo?"
Pode, filha!! É seu... E o seu descanso em mim é que me descansa!
"Mamãe, senta pertinho de mim?"
Claro, filha!! Eu estou e estarei sempre ao seu lado!!
"Mamãe, passa remédio?"
Sim! E muitos beijinhos, que pra você sarar bem rapidinho!
Mãe é besta! Mas mãe é mãe!
E não importa o que aconteça... Não importa quem vai, quem fica...
Não importa o que digam... Não há nada que nos roube esse amor...
É como se no momento que somos fecundadas, no nosso coração fecunda-se um amor, que só cresce! Não tem espaço e nem jeito pra fim!
Te amo, meu amor!
Meu melhor amor!
Vida minha!
Meu cheirinho, chicletinho, princesa!
Que Nossa Senhora sempre a proteja!
Amo você!!

segunda-feira, 24 de abril de 2017

Gostos, texturas, laços, anestesia

Estou sentada no lugar mais alto que poderia estar nesse momento...
Não, isso não é uma coisa grandiosa...
Não se trata de um lugar no pódio...
Estou no lugar mais alto que poderia estar a olhar para baixo e à ver tudo que já fui, tudo que já foi, tudo que ainda poderei ser...
Sabe...
Já andei tanto...
Todo esse chão de superfície tão irregular e tão cheia de surpresas...
Senti campos macios e o seu perfume...
Pisei pedregulhos e fui tomada pelo seu odor de enxofre...
Afinal, o que espera?
Vai ficar tudo bem, não vai?
Isso vai passar e vai parar, não é?
Sim. Eu sei que vai!
Me perguntaram, como consigo... Depois de tanto, como ainda posso?
A resposta passou várias vezes por mim...
Carregando seu madeiro... Olhou nos meus olhos... Eu não chorei em vão.
A mulher que vivi naquele dia... Tocou-me como nunca e de repente entendi...
Então, eu precisava vir aqui dizer.
Não chorei em vão!
Eu a vi e senti sua impotência, sua obediência... A espada cega que cruzava e rasgava sua alma.
Eu a senti doer dentro de mim... Uma dor só, aguda, ferroada...
Um misto de medo e confiança...
O fruto do ventre dela, de repente se misturava ao meu...
E no altar do calvário, enquanto seu filho era sacrificado, a terra do seu coração era devastada.
Sente o gosto?
Sente a textura das minhas palavras?
A aridez e a doçura misturadas, quase não podendo mais se separarem?
E depois de tanto, ainda posso ouvir o silêncio...
Posso sentir o cheiro e a densidade do lugar vago...
Às vezes, vejo eles, como era antes... As rodas de conversa, as músicas, as brincadeiras... E logo após um silêncio enorme, como se de repente, eu fosse apenas um membro amputado...
A questão é que não dói mais...
Por agora vou vendo todas as coisas e tendo todas as lembranças que vem e vão e elas estão cada vez mais cinza, foscas... Mas o cheiro, dos risos, das amizades, das aventuras... Isso ainda permanece...
Eu lembro de tudo... E sinto tudo... Mas não cobro mais, porque sempre gostei que as coisas fossem espontâneas... Um lado meu, não entende porque está tudo tão cinza, o outro nem sabe mais se acha graça nas cores...
Mas que bom que ainda tenho essa intimidade sobrenatural...
Bastam algumas contas e sinto-me próxima de um paraíso, por mim, talvez nunca habitado... E aí, tenho saudades do céu... E uma saudade que me doma, laça e me segrega cada vez mais...
E sim.
Volto a estar anestesiada...
Se sorrirem, sorrio! E quase acredito no riso que dou... Mas é semblante... É passagem...
E já não sei se dói mais crer no riso ou simplesmente extirpá-lo de uma vez por todas!
Os dias estão densos...
Minha história tem ido e vindo, tirado o meu sono, perturbando meus passos...
A pessoa boa que eu gostaria de ser, às vezes parece que nunca existiu.
E a partida de todos, só parece confirmar isso!
Aí olho pra você... Um tantinho de gente, que me segura pela trança dos seus lindos cabelos...
A parte de mim viva, por quem luto, me alegro, me nomeio!
Você que tem me salvado todos os dias e posso dizer com firmeza, que é presente do céu!
Linda! Amo!
E volto a pensar no que poderia ter sido se... se... se...
Eu não tive domínio!
Deceparam minhas escolhas! E carrego comigo a sentença de uma estrutura fraterna tão sonhada e que não poderei dar-te por inteiro... Mas calma! A minha metade, minha parte, está aqui para você! E faz-se inteira para você, mesmo que isso custe, não ser mais inteira para mim!
Dias... dias... dias!
Que eu aprenda a ter gratidão!
Que eu não tenho medo desse gesto!
Que eu me liberte do que foi!
Que eu siga!
E enquanto isso...
...
Bem. Estou sentada no lugar mais alto que poderia estar nesse momento...
Não, isso não é uma coisa grandiosa...
Não se trata de um lugar no pódio...
Estou no lugar mais alto que poderia estar a olhar para baixo e à ver tudo que já fui, tudo que já foi, tudo que ainda poderei ser...
Sabe...
Já andei tanto...
Todo esse chão de superfície tão irregular e tão cheia de surpresas...
Senti campos macios e o seu perfume...
Pisei pedregulhos e fui tomada pelo seu odor de enxofre...
Afinal, o que espera?
Vai ficar tudo bem, não vai?

segunda-feira, 20 de março de 2017

Sobre o amor e a água

Uma vez, ouvi dizer que os indianos têm o casamento como a água que ainda vai ser levada ao fogo. Quando se conhecem, revelam que o amor é para eles como aquela água preparada dentro de uma vasilha que ainda será levada ao fogo, portanto, frio...
A medida que a vasilha passa pela chama e se aquece, a água contida nela, também vai esquentando, e segue assim, até ferver...
Para os indianos, com o amor não seria diferente...
O amor pelo outro, começa frio, e ganha calor até ferver à medida que se vai conhecendo o parceiro com quem você pretende viver.
O amor, nessa visão, é uma construção, uma permissão...
Me permito conhecer e me deixar conhecer até que cheguemos no ponto de entender o quanto precisamos dessa "parceria" que vai acontecendo ao longo do convívio.
Bem...
Quem sou eu para falar de amor, né?
Quem sou eu...
Mas, arrisco...
Nós, ocidentais, seguindo a lógica indiana, damos início as nossas relações, quase sempre, já a ponto de ebulir. Com o tempo, nos esquecemos do que mantinha o amor nesse ponto e o tiramos da chama, com atitudes, gestos e palavras que podem levar a relação a graus negativos, congelando inclusive o coração dos amantes, antes tão apaixonados.
Frios, muitas vezes, nos esquecemos, o que é o amor e como é bom ser amado.
A confusão é tanta...
O medo é tão intenso, que você começa a crer que é melhor estar como está...
É melhor, não se dar o "trabalho".
O que eu penso hoje?
O amor é um exercício contínuo de todas as expressões esquecidas de algum lugar perdido na infância, aonde podíamos ser, zelar e ceder, sem esperar nada mais em troca.
O amor é a simplicidade, a humildade, as pequenas coisas que vão florescendo e que a maioria se quer, percebe, como aquelas boas conversas, que a gente por descaso, acaba jogando fora...
O amor é uma troca justa, mesmo quando de um lado só há lágrimas e do outro um sorriso que tem raiz dentro do peito.
O amor é um passo, em direção ao desconhecido ao lado de alguém disposto, que caminha descalço os mesmos passos que você.
O amor é a água limpa e cristalina que eu carrego no peito, mesmo não a sentido quente, porém certa, de que em alguma hora, uma chama acenda e aos poucos, quem sabe, comece a se aquecer.
O amor é um sono leve e seguro, encostado no peito de alguém, mesmo quando não está perto, mas se pode imaginar.
O amor é uma conexão, que você não faz ideia de como, quando ou porque começou, mas não se importa, porque tem algo mais que te prende ali.
O amor... Sabe aqueles dias de chuva e de sol? Sim!
E também instantes de coisas que pensamos que não tem nada a ver.
Eu sei que não parece muito, eu sei que olhando de coração fechado, tudo isso é besteira.
Mas, para ver o amor, as vezes, se tem que fechar os olhos, abrir bem o peito e correr o risco de riscar estradas inteiras, nem que seja a base de giz de cera.
O amor não custa.
É pequeno e grande...
Não segue moldes, cabe e se adéqua, se adapta, rege e governa...
Sua ausência escurece...
Por essas e outras, mesmo ainda não tendo chegado a hora de começar a ferver, eu guardo a minha fonte, minha água...
É que, deserto como têm sido os dias e as pessoas na atualidade, é sempre bom ter o peito encharcado e vez ou outra...
Simplesmente...
Deixar-me...
Correr...


domingo, 5 de março de 2017

Dia da Anna...

Mãe... Eu fiz um laço... E é rico!
Tenta tantas preciosidades!
Anna, eu não poderia deixar de vir aqui para agradecer pelo dom da sua vida.
Agradecer pelo dia que Deus permitiu a você, vir nesse mundo, para ser outro pedaço meu que se espalhou por aí.
Sim, Anna!
Nossas semelhanças, são tantas, que às vezes me vejo como sendo apenas mais um retalho de uma grande obra, que volta e meia encontra as outras partes e se costura nelas, para dar conta dessa missão, de estar aqui e não pertencer a essas terras...
Eu, me vejo estrangeira! E ser assim, com uma estrangeira de coração gigantesco como o seu, firma meus passos, rumo ao céu!
Sua amizade é fácil... Tem gosto de céu... Tem o calor do sopro dos anjos!
Quando vim pra cá, perdi tanto... Difícil aprender a andar, depois de tantas quedas... As vértebras não correspondem como gostaria. Mas Deus na sua infinita bondade me presenteia com uma irmã!
Como isso é maravilhoso!
Quantas vezes nos vimos?
Quantas??
E é engraçado, que toda vez que estamos partilhando, me vejo em Cachoeira, sentada na varanda daquela casa que ficava no alto, olhando pra gruta e vendo por trás dela, os trilhos e um pouco dos montes...
Faz tanto tempo isso...
Mas é uma lembrança tão próxima, que tem até cheiro... Cheiro da umidade daquele lugar... E as marcas de terra num all star velho...
Anna, obrigada!
Obrigada por essa amizade!
Hoje, no seu dia, agradeço à Deus, por ter me dado uma Anna!
Essa que eu posso olhar e me ver, porque eu sei que dói, ri, ama, solidariza, partilha, como eu...
Que coisa mais linda!!
Obrigada Anna!
Feliz aniversário!!

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Eu te amo!

Como se continua, depois que a verdade é descoberta?
Como você olha pra frente, depois que enxerga por debaixo do véu e finalmente vê que não era tão belo, como você pensava?
Como é que se dá o primeiro passo, depois da queda?
Não me sentava aqui há tanto tempo... 
Pensei que já tivesse sacramentado a parte dessa escrita, mas parece que ela nunca morre...
Como é que se confia, depois que você vê que o outro lado não é tão seguro, como você pensou?
Como, eu poderia colocá-la lá e não sentir que uma parte de mim está indo embora, talvez pra sempre?
O talvez dói... 
Dói, como uma lança passada no fogo, cortando seus membros, atravessando pelo meio e vazando do outro lado do peito.
O talvez, o que não posso contornar ainda, a sensação do que pode ser são aterrorizantes... Porque até ser, não se pode fazer... E sinto-me como se estivesse amarrada...
Com se meu algoz estivesse ali, dizendo o que vai fazer, passo à passo de como pretende me ferir, me deixando apenas na expectativa.
E como já me bate um cansaço, que às vezes não sei se sou capaz de suportar, fecho os olhos e apenas espero que aconteça logo, pra que de alguma forma eu consiga reagir...
Por outro lado, pensar em você indo pra lá, me atormenta tanto, que me tira o ar... Penso em quando você chorar e me quiser por perto... Penso, na hora de dormir, quando sou eu que espanto o lobo da sua cama pra que você possa dormir melhor... Penso, em como vai doer, quando eu não ouvir, você dizer que estou fantástica...
Você é meu bem maior!
A melhor lição sobre ser melhor que Deus poderia ter me dado!
A melhor maneira de aprender a ser forte, que eu poderia ter!
Deus te proteja, como tem me protegido!
Deus te guie, como tem me guiado!
Deus seja tua sombra, como tem sido a minha!
Deus te guarde, como tem me guardado!
Eu te amo!

terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Cacto...

Se eu não disser algo, vou morrer entalada...
Não importa o quanto você ache ruim... Não importa se você não entende...
Eu só preciso acomodar as coisas dentro de mim e isso as vezes pode doer mais do que você possa imaginar...
Não é tão simples e nem eu tenho bem as respostas certas pra esse tipo de coisa... E acho que se tivesse, isso aqui seria desnecessário...
Vontade de colocar a mochila nas costas e sumir! Mas ao mesmo tempo, vontade de simplesmente ficar por aqui mesmo e mais uma vez peitar todas as incoerências que vão surgindo por aí...
Sabia que é horrível pra mim também, não conseguir conter essas mágoas dentro de mim?
Sabia que é horrível ter deixado que elas espirrassem em você?
Estou olhando pela janela agora... Tenho que fazer escolhas e não posso dizer que será a menos dolorosa...
Se é dramático? Sim, eu sei que é!
Você simplesmente acha que não vi! Que não percebi! Que não sentia... Mas eu vi, percebi, senti...
Mas é claro, vamos continuar sorrindo... Nada que uma boa moldura não disfarce o conteúdo em necrose... Dorian, Dorian... Esse belo sorriso é o mesmo que resplandece na tua obra eterna?
Por outro lado, eu também me responsabilizo, porque mesmo quando percebi, pensei que seria forte o suficiente para não sentir e para ser despojada na medida certa! Que babaquice... Não consegui!
Não posso deixar de ser quem sou... E todas as formas que tentei para sair de mim e me adequar as realidades desse universo, só fizeram aumentar esse buraco negro no peito, que só consome tudo que vai se aproximando...
Não sou uma pedra... Mas também nunca fui uma rosa...
Acho que sou meio que como uma flor do deserto... Sobrevivo a sequidão, aos intempéries da natureza e das ações humanas... Resisto a quase tudo... Mas ando descobrindo que não sou o tipo de flor, que se colhe...
Tanto tempo na sequidão de alguma forma você aprende a ser como ela... E isso não é algo pensado!
É até algo que precise de ser mudado...Mas como?
Todas as minhas mudanças até então, só fizeram o que já disse: o buraco negro!
Ainda assim é necessário...
Estou tentando...
Só tenha paciência... E senão puder corra mesmo...
Não quero e não posso prender ninguém a essa montanha russa!

Valsa

Não gosto quando ela se aproxima assim... Mas sempre a recebo... Mesmo que não tenha vindo dessa vez a minha casa, parece que ela faz que...